Sistemas
Nos últimos anos tenho trabalhado muito próximo dos times de atração de talentos, não apenas porque me interesso, mas também porque esse processo tem se tornado cada dia mais técnico e a contribuição do time especialista tem sido fundamental para o sucesso das contratações. Participar deste sistema por tanto tempo, tem me ensinado diversos hackings que gostaria de compartilhar com vocês, sejam recrutadores, candidatos ou desenvolvedores iniciantes, em busca de novas oportunidades de crescimento, a fim de se destacarem.
Uma coisa que você precisa entender, antes de começarmos: em quase todo processo seletivo, existe uma distância, muitas vezes enorme, entre o que o candidato de fato domina e o que ele é capaz de transmitir durante uma entrevista de 30 a 40 minutos. Então, a todo momento, é importante que você procure ser objetivo, mas que saiba discorrer nos pontos que é do seu interesse dar ênfase, durante a sua conversa com os recrutadores. Por isso, a primeira dica é: se prepare para a conversa!
Parece uma bobagem, mas boa parte dos candidatos não se organiza para a entrevista.
É o seu momento! Eu ouvi uma vez e tenho repetido: ler um currículo é como ler a história de alguém, mas conhecer essa mesma história diretamente da boca do protagonista é completamente diferente.
Ao contar sua história, procure encaixar as “lacunas” que seu currículo não conta, como possíveis motivações que o levaram a trocar determinado contexto para outro e, principalmente, dar ênfase no que você considera mais importante para a vaga em questão. Você pode otimizar isso, analisando os “matchs” que existem entre o seu perfil e a vaga em questão, montando uma colinha prévia para lembrar de cada um deles ao longo da sua história.
Até este momento, estamos falando apenas dos pontos que você criou, participou ou aprendeu (no passado mesmo), mas, talvez, a parte mais importante seja justamente olhar para o futuro: diariamente, cada vez mais percebo o valor do potencial de cada candidato, ao invés de apenas limitá-lo ao momento atual, ou seja, tudo aquilo que ele já é, procuro expandir essa visão para tudo o que ele pode se tornar, ao aprender conosco.
Lembre-se que, por melhor que você se saia “narrando seu currículo”, recrutadores já tinham uma boa ideia de quem você era, ao selecioná-lo para esta conversa. A chance de sair na frente e realmente se destacar, começa quando falamos de tudo o que está por vir e apresentamos todo nosso potencial. Para isso, vamos abordar os talentos “não escritos”. Como recrutador, é comum ouvir uma enumerada lista de “qualidades”, quando tentamos abordar esse tema ativamente (quando o candidato não os aborda por conta própria). Não caia nesta armadilha. Trazer esta lista, pura e simplesmente, é quase tão vazio quanto não trazê-la.
É importante abordar demonstrar essas habilidades com estratégia e transmitir a sua propriedade sobre elas. Em outras palavras: melhor do que dizer que é organizado, é, por exemplo, você explicar que começa o dia revisando sua agenda pessoal e tomando nota dos principais compromissos do dia. Procure refletir sobre o seu dia a dia e encontre pontos que validem seus atributos. Se você realmente as tem, vai encontrá-las facilmente. Fica a reflexão.
Mas será que existem habilidades mais relevantes ou mais valorizadas que outras?
Individualmente não, mas, principalmente para programadores em início de carreira, algumas características facilitam a evolução de todo profissional envolvido em times de desenvolvimento.
Não se preocupe; toda habilidade pode ser treinada, aprendida e desenvolvida, assim como qualquer conhecimento.
Para fins de objetividade, vou comentar apenas quatro qualidades que, eu particularmente, espero perceber nestas entrevistas.
Se você pretende entrar na área de desenvolvimento e se tornar um programador de alto nível, acompanhar as tendências tecnológicas, evoluções constantes de suas ferramentas de trabalho com IDEs e frameworks, passam a ser um exercício diário.
Uma grande qualidade bastante valorizada, principalmente em níveis iniciantes: o famoso “se virômetro, um bom programador deve conseguir encontrar maneiras de fazer algo funcionar. É isso que vai permitir que você não desista de grandes ideias, só porque alguém disse que não era possível. De certa maneira, encontrar um caminho novo para fazer algo funcionar, normalmente implica em lidar com pequenos fracassos sucessivos, que vão lhe trazer aprendizados e culminar na resolução definitiva de um problema.
Acredite, há uma qualidade mandatória! Digo isso, porque não existe nenhum talento que supere a soma de todos os talentos de um time! Então, um bom “teamwork” não pode faltar. Isso implica em saber ouvir ativamente e formular bem suas ideias para ser compreendido. Lembre-se que, nos dias de hoje, as interações em grupos são cada vez mais complexas, onde temos regimes híbridos ou 100% remotos, que exigem muito mais energia para funcionarem.
A entrevista não é unidirecional! Em algum momento, procure fazer as suas perguntas e esclarecer suas dúvidas importantes. Demonstrar esse interesse, pode sim, encantar os recrutadores. E aqui, não estou falando de perguntar o clichê: “qual o salário? benefícios?”. Tente descobrir como seriam os primeiros 30 dias na empresa, se existe um processo de acolhimento (onboarding) e formação inicial (ramp up). Empresas organizadas devem conseguir transmitir a segurança para o candidato, que existe um esforço real em “fazer funcionar” todo o processo de consolidação na contratação de um talento. Boas perguntas podem evitar problemas de cair em ciladas e que trazem muitas dores de cabeça.
Por fim, se arrisque! Acredite em você mesmo e conquiste seu espaço, seja numa transição de carreira ou alavancando novos desafios. O sucesso para ser aprovado amanhã em um processo, começa hoje mesmo. Prepare-se e boa sorte!
Formado em Comunicação Digital, pós-graduado em Arquitetura de Sistemas, três vezes consecutivas reconhecido para Microsoft como MVP.